Silvio Guerini

Não existe outro hoje senão o agora!

Textos


Quando um homem chora


Chora no gol da seleção
na hora do hino
com nó apertado de emoção
chora de raiva quando perde
na desilusão
chora no escuro do cinema
na hora do beijo
quando na trama... num dilema
o mocinho, no seu mais elevado ensejo
morre no final
chora na dor da morte
hora fatal
pelo amigo que partiu
chora sua falta de sorte
pela ferida que se abriu
chora na canção que lhe emociona
que solta a lágrima... que arrepia
no timbre da voz do cantor
que destila em versos sua poesia
chora na visão do filho que afaga
no abraço amoroso que recebe
que nenhum dinheiro do mundo paga
chora contente... feliz
na folia do seu cão
que no latido lhe diz
quando lambe sua mão
como é justa essa amizade
chora quando sua alma aprisionam
quando lhe algemam a vontade
nas encruzilhadas da vida
nos vícios que lhe condicionam
dos quais não consegue fugir
chora com medo de injeção
dissimulando a lágrima
por tamanho papelão
chora escondido num canto
com medo da solidão
chora no pavor do espanto
quando não consegue amar uma vez
chora pelo terror da idéia
de que quem sabe... talvez
isso vire rotina
chora quando vê o amigo
num desespero que desatina
perdido na sua dor
como se fosse um castigo
não ser dela o redentor
chora feito criança
sozinho num canto
quando perde a esperança
quando acha o desencanto
chora indignado quando cede
quando se faz de idiota
quando a razão se escafede
se afoga na própria fraqueza
e joga fora uma nota
comprando amor... que tristeza!
chora impotente
com sentimento de raiva inconfesso
quando vê no jornal impresso
tanta maldade.. por demais indecente
quanta barbaridade
que lhe faz indiferente
chora no frio da traição
feito faca no peito fincada
que se escancara na desilusão
do amigo... da mulher amada
por quem tinha afeto... afeição
e que o fez cair na cilada
mas chora sobretudo
quando vê no olhar de quem ama
que uma chama se apagou
que aquela luz que seu olhar tanto clama
virou cinzas... terminou
e aí... chora...
chora tanto
que se encharca no próprio pranto
amargura que seu eu devora
e aí chora...
chora de pura dor
pelas mazelas que fez do amor
só lembranças de um outrora
e aí... chora...
chora pela paixão
pelo buraco que restou no coração
mas agora...
quando um homem realmente chora
não é só do tormento que lhe veste
ou do prazer que lhe aflora
nem de um espinho que o moleste
mas é um grito do coração que lhe aperta
da alma que lhe implora
quando um homem... enfim... chora
é salvo pela lágrima que o liberta


08 de maio de 2007
guerinis@uol.com.br


Silvio Guerini
Enviado por Silvio Guerini em 20/11/2007
Alterado em 24/12/2007


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