Quando um homem chora
Chora no gol da seleção na hora do hino com nó apertado de emoção chora de raiva quando perde na desilusão chora no escuro do cinema na hora do beijo quando na trama... num dilema o mocinho, no seu mais elevado ensejo morre no final chora na dor da morte hora fatal pelo amigo que partiu chora sua falta de sorte pela ferida que se abriu chora na canção que lhe emociona que solta a lágrima... que arrepia no timbre da voz do cantor que destila em versos sua poesia chora na visão do filho que afaga no abraço amoroso que recebe que nenhum dinheiro do mundo paga chora contente... feliz na folia do seu cão que no latido lhe diz quando lambe sua mão como é justa essa amizade chora quando sua alma aprisionam quando lhe algemam a vontade nas encruzilhadas da vida nos vícios que lhe condicionam dos quais não consegue fugir chora com medo de injeção dissimulando a lágrima por tamanho papelão chora escondido num canto com medo da solidão chora no pavor do espanto quando não consegue amar uma vez chora pelo terror da idéia de que quem sabe... talvez isso vire rotina chora quando vê o amigo num desespero que desatina perdido na sua dor como se fosse um castigo não ser dela o redentor chora feito criança sozinho num canto quando perde a esperança quando acha o desencanto chora indignado quando cede quando se faz de idiota quando a razão se escafede se afoga na própria fraqueza e joga fora uma nota comprando amor... que tristeza! chora impotente com sentimento de raiva inconfesso quando vê no jornal impresso tanta maldade.. por demais indecente quanta barbaridade que lhe faz indiferente chora no frio da traição feito faca no peito fincada que se escancara na desilusão do amigo... da mulher amada por quem tinha afeto... afeição e que o fez cair na cilada mas chora sobretudo quando vê no olhar de quem ama que uma chama se apagou que aquela luz que seu olhar tanto clama virou cinzas... terminou e aí... chora... chora tanto que se encharca no próprio pranto amargura que seu eu devora e aí chora... chora de pura dor pelas mazelas que fez do amor só lembranças de um outrora e aí... chora... chora pela paixão pelo buraco que restou no coração mas agora... quando um homem realmente chora não é só do tormento que lhe veste ou do prazer que lhe aflora nem de um espinho que o moleste mas é um grito do coração que lhe aperta da alma que lhe implora quando um homem... enfim... chora é salvo pela lágrima que o liberta 08 de maio de 2007 guerinis@uol.com.br Silvio Guerini
Enviado por Silvio Guerini em 20/11/2007
Alterado em 24/12/2007 |